
Perdoada a pobreza da rima, e deixando de lado que os já conhecidos benefícios de socialização compensam os desconhecidos riscos, pode-se afirmar logo em seguida que tal pergunta, mal formulada, está no centro do problema da adição. A pergunta implica que seja o chimarrão, e não cada um de nós, ou algo em nós, o autor da adição. Adicionar algo que nos falta. Que se reconheça, que mesmo que a duas pessoas faltem um mesmo algo, não faltará nunca da mesma maneira, nem com a mesma intensidade, pois toda psi é uma casuística sem fim. Fica fácil dizer que mesmo que troque de mão em mão, o chimarrão nunca será o mesmo para cada um na roda. Cada pessoa possui sua maneira de viver a vida, e há quem diga, as vezes a própria vida parece querer ter vida própria. Uma das tentativas de sistematizar uma adição é considera-la como sendo o terceiro grau de uma escalada iniciada com o simples uso de uma droga, passando a um abuso, até alcançar um estágio de dependência, tanto de uso e hábito, quanto da química contida na droga. Por outro lado há também um entendimento de que no centro da adição esteja a perda do controle por parte do habituado. Esta forma de ver as coisas é interessante, mas a contrapartida é o argumento de que as drogas não são todas iguais, e mesmo que a vontade fosse igual a todas as pessoas, ainda assim, a qualidade da substância adicionada teria de ser levada em conta. A química de um mate não pode ser igualada a cafeína contida em um café expresso. Existem drogas capazes de exercer poder químico real sobre a mente de um adito. Não fosse assim, o jogo de cartas, o ver televisão ou o apostar em cavalos, poderiam também serem considerados uma adição, por representarem uma perda do controle por parte da pessoa que passa a depender do hábito, por constituirem uma fonte de abastecimento psicológico, seja de entrenimento e prazer, como também de segurança e presença, onde se resalta o desconforto sentido no abster-se da ação. Sob este ponto de vista, não só a química de um cigarro importa, mas também o consolo de 'fumar um', sendo comum a expressão 'cigarrinho amigo', ou 'o companheiro de minha solidão'. O importante talvez seja manter-se aberto a tais idéias e as ter sempre bem lembradas, para que saciadas nos permitam esqueçe-las e nos voltar para escutar a pessoa que nos fala. Deixar que cada um conte a sua história, ouvir, é o que primeiro deve ser oferecido junto com o mate, por ser exatamente o algo que falta, em toda e qualquer adição. Toda adição substituiu, ou tenta substituir em vão, uma outra pessoa. Espero portanto, com minhas palavras, chamar para a conversa pelo menos uma outra pessoa ( psicólogo CLÁUDIO LEITÃO)). (foto Guria's Da Vam, http://grasi-ruivasm.brasilflog.com.br/)
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