terça-feira, 6 de janeiro de 2009

"Uma Gaúcha em Madri", uma escritora entre nós

Tenho várias lembranças da Joice, entre as mais antigas estão as do tempo em que
atuava no grupo de teatro do Cefet na montagem da peça Em Nome de Francisco, cujo tema é a vida e obra do poeta Lobo da Costa, com texto e montagem de Valter Sobreiro Júnior.
Eu fazia a fotografia da peça e viajei com o grupo por várias cidades , inclusive Montevideo . Junto com o espetáculo ia minha exposição que entitulei Evocação do Poeta: Cena e Bastidores.
Uma lembrança bem recente é de uma noite no Dom da Palavra onde cheguei para conversar com o José Vidal e encontrei a Joice muito concentrada no recital de poesias que estava programado.
Num dado momento foi até à frente , no local destinado aos músicos, e recitou algumas poesias, suas e de outros autores. Saiu-se bem pois além das poesias serem boas , ela é atriz e tem controle da voz e dos gestos.
Mas , entre estes dois momentos, a surpresa que a Joice me preparou foi ter se revelado escritora. Primeiro, impulsionada pela brisa que representou o José Vidal no campo editorial pelotense, teve publicado a novela Amor Doentio de Mãe.
E agora, bem recentemente, os relatos de viagem intitulados Uma Gaúcha em Madri
Em pouco tempo, a atriz de teatro, a jornalista, a “aventureira”, já conquista um espaço numa área na qual não são tantos os que se lançam com a desenvoltura que ela demonstra.
Reproduzo a seguir uma poesia da escritora.

Pés descalços

Tira já o pé do chão frio
Como minh'alma
O piso gelado vai te deixar doente
Como minh'alma
Os dedos entumecidos, dormentes
Como minh'alma

Sorriso travesso, olhar maroto
Só tem três anos e já sabe tanto
Esperta, teima em desobedecer
E ser feliz até no pranto

Quero ser livre como ela
Destemida, irresponsável,
sem abrigo
E não consigo
Os anos me estragaram
O melhor de mim levaram
Minha espontaneidade
E ousadia
O fogo que em mim ardia
Na minha melhor de idade

Volta aqui!
Ela, eu, enfim
Onde está a menininha
que habitava em mim?

Quero ver as duas lado a lado
Mãe e filha
De três anos, sem calçados
Correndo pelo piso frio
e pela vida
Sem medo de ser feliz
Mais atrevida

Azar do nariz entupido
"?que más dá?"
Que fique trancado
Como minh'alma
Deixe a guria dançar

( Texto: P.R.Baptista)

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