domingo, 27 de setembro de 2009

Sambas e Tragédias

O Terceiro Mandato de Lula
Uma das questões que recentemente ganhou notícia na conjuntura política brasileira foi a tese do terceiro mandato presidencial. Dois fatores parecem ter contribuído para a ressuscitação desta tese exdrúxula : o prazo para alterar a legislação que se esgotava e a inesperada, pelo menos para o grande público, enfermidade da ministra Dilma. O momento serviu para manifestações e tomadas de posição de vários segmentos, algumas deslocadas e precipitadas, prevalecendo, ao fim, felizmente, para o bem do tão festejado “espírito republicano”,o entendimento de que qualquer proposta de alteração seria desastrosa para a consolidação e amadureciento de nossa ainda extremamente frágil organização política e democrática.Quando, num dado momento, com intervenções de vários setores, começou a ficar claro que esta tese seria extremamente polêmica e conduziria a confrontos de resultados imprevisíveis, o próprio PT, o partido governista e o presidente Lula, acabaram por emitir sinais de que não eram favoráveis à tese, desautorizando-a. O ex-deputado e ex-ministro José Dirceu, por exemplo, escreveu sobre a questão, criticando a tese da reeleição por representar, segundo ele, um enfraquecimento da candidata Dilma.
Ficou, de qualquer forma, do episódio, um alerta. Num cenário , a nível sul-americano, de alterações constitucionais permitindo as reeleições ( embora para um segundo mandato algumas), a tentação de trazer esta experiência para o Brasil poderia parecer a alguns o tão procurado Caminho das ìndias.

Cartão Vermelho e Apito Final
De outro lado o Senado Federal, que em alguns momentos lembra a Escolinha do Professor Raimundo, tal é a sucessão de quadros cômicos proporcionados pelos ilustres senadores, disputa com os programas de entretenimento da televisão brasileira um lugar de destaque. Mas só seria cômico se não fôsse trágico. Salva-se em meio ao talento histriônico do senador Simon e da tropa de choque encabeçada por Renan ( já refeito dos estragos de sua aventura amorosa) e Collor ( este felizmente mal digerido pela nação brasileira) , momentos de absoluta pureza e desperdício artístico como o do cartão vermelho erguido pelo senador Suplicy dirigido a Sarney que, naquele momento, já tinha virado as costas e saído do plenário. Sarney, aliás, encontrou-se com Lula ainda no início da crise. É como se tivesse sido o encontro da Múmia com o Faraó. A dúvida agora passa a ser: depois do cartão vermelho quem vai dar o Apito Final?

terça-feira, 10 de março de 2009

Chimarrão, Lagosta e Spaghetti

Em meio às várias versões e enfoques do caso Battisti, ex-militante durante a década de 70 do grupo Proletários Armados pelo Comunismo (PAC), movimento clandestino italiano, pelo menos uma coisa é certa.
O caso parece ter se tornado antes de mais nada político.
O que está em julgamento deixou de ser o possível grau de envolvimento de Battisti com os homicídios de que é acusado, mas a posição que, em relação aos fatos, tomam as partes envolvidas.
A meu ver dois aspectos merecem consideração:

1) o fato de que obviamente as ações em que Battisti teria estado envolvido e que redundaram em morte, tinham objetivos políticos.
2) ele já foi asilado por 10 anos durante o governo francês protegido pela lei Mitterand.

Caberia saber se, à época, a Itália retirou seu embaixador, fêz ameaças ou exerceu uma pressão semelhante à que andou demonstrando disposição de fazer agora.
Talvez haja nisto algum tipo de preconceito cultural.
O deputado italiano Ettore Pirovano, do partido conservador Liga Norte, dentro da linha de pensamento de que o Brasil não é um país sério ( vide De Gaulle) ironizou o trabalho de juristas brasileiros ao comentar o refúgio político concedido ao ex-militante de esquerda Cesare Battisti. “Não me parece que o Brasil seja conhecido por seus juristas, mas sim por suas dançarinas”, disse Pirovano.
O caso que vai para o STF parece estar assim, colocando em segundo plano o próprio aspecto jurídico , representar o confronto entre a posição, de um lado, defendida pelo ministro Tarso Genro para quem o estado brasileiro deve conceder asilo a um militante político sob a mira de um governo de direita e, de outro, a deste próprio governo italiano, conduzido pelo burlesco Berlusconi, que estaria buscando, em ações como a da punição de Battisti, marcar a firmeza de sua disposição de combater todas as formas de manifestação do pensamento de esquerda.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Exposição Fotográfica no Laranjal

Para os apreciadores de Fotografia, e nem precisa ser apaixonado como somos, uma ótima opção no Laranjal. Quem nos sugere é a Rejane Botelho da Agência da Arte.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Neonazistas torturam brasileira grávida na Suíça

A notícia, divulgada através de outros meios de comunicação, é de O Estado de São Paulo e reproduzimos , mais abaixo, na íntegra.
Por mais que se possa interpretar como fato isolado, dá bem a dimensão de uma tendência , que se mostra cada vez mais forte na Europa , de crescimento da direita.
O atual episódio do italiano Cesare Battisti, que esteve exilado durante muitos anos na França amparado pela legislação existente, e cuja cabeça o governo de tendências fascistas de Berlusconi pressiona para que o Brasil entregue numa bandeja, não deixa de estar inserido dentro deste contexto.

A advogada brasileira Paula Oliveira, grávida de três meses de gêmeas, foi atacada e torturada por três neonazistas na noite de segunda-feira na cidade suíça de Dubendorf, na periferia de Zurique. Os agressores inscreveram, com um estilete, a sigla SVP - iniciais em alemão do Partido do Povo Suíço, de extrema direita - na barriga e nas pernas da brasileira. O ataque fez com que Paula, casada com um suíço, abortasse.
O caso ganhou contornos políticos depois que a cônsul-geral do Brasil em Zurique, Vitória Clever, constatou que a polícia suíça sequer abriu investigação para identificar os agressores. "Trata-se claramente de um ataque xenófobo", afirmou Vitória, que hoje vai até o escritório central da polícia exigir esclarecimentos. "Se for necessário, levaremos o caso às mais altas instâncias", acrescentou, indicando que o Itamaraty pode pedir também explicações à Embaixada da Suíça em Brasília.
Nos últimos meses, ataques xenófobos têm ganhado força na Europa diante de um discurso cada vez mais racista dos partidos de extrema direita. Na Suíça, a crise financeira internacional e o aumento do desemprego deram popularidade aos partidos políticos que defendem medidas contra a imigração. Casos de ataques contra estrangeiros aumentaram, mas, até agora, os brasileiros não eram os alvos preferidos - as principais vítimas são imigrantes turcos, ex-iugoslavos e africanos.
Paula, uma pernambucana de 26 anos, trabalha na multinacional Maersk e, segundo o Itamaraty, vive legalmente na Suíça. Ela foi atacada quando voltava do trabalho, após desembarcar na estação de trem perto de sua casa. Paula falava ao telefone celular com a mãe, que estava no Recife, quando foi cercada pelos três skinheads. Levada para um parque, foi espancada por 15 minutos e teve sua roupa parcialmente arrancada. Um deles usou um estilete para cortar barriga, braços, rosto, tórax e pernas. "Ela ficou marcada em várias partes do corpo", disse a cônsul.
A diplomacia brasileira criticou o comportamento da polícia após a agressão. Isso porque, ao prestar queixa, Paula foi interrogada pelo detetive Andreas Hug - ele duvidou de sua versão, querendo saber se ela não teria se autoflagelado. Paula disse que um dos agressores tinha uma suástica tatuada no corpo. A cônsul também passou por uma situação constrangedora ao telefonar para a polícia. A delegacia local apenas a informou que, se quisesse saber detalhes da agressão, que perguntasse à vítima. Por enquanto, familiares disseram que ela permanecerá no hospital local. Em breve, ela deve voltar para o Recife.
Paula é filha de Paulo Oliveira, secretário parlamentar do ex-governador de Pernambuco e deputado federal Roberto Magalhães (DEM-PE). Os pais da brasileira chegaram ontem a Zurique e hoje pretendem buscar informações sobre a investigação.

fonte: jornal O Estado de S. Paulo
( a foto acima é reprodução de foto do álbum de família da advogada brasileira )

sábado, 31 de janeiro de 2009

Tragédias, calamidades e política: morrer abraçados?

Pelotas e região, em poucos dias, foi cenário de dois fatos, embora bem diversos, que permitem alguns pensamentos comuns. Tratam-se do acidente com a delegação do xavante e as enchentes que vivemos neste momento em sua destruição.
Tragédias e calamidades, principalmente se envolvem fatores naturais de difícil controle e até previsão, às vezes aparentam não ter como se interferir a não ser para minorar suas consequências devastadoras.
Mas alguma coisa sempre será possível fazer para prevenir e melhor controlar, principalmente quando se trata de eventos já ocorridos pelo menos uma vez.
Um exemplo bem simples é o alagamento de áreas próximas ao leito do antigo arroio Santa Bárbara em Pelotas e, em particular dentro deste perímetro, a situada na Vila Castilho, historicamente conhecida como "Cerquinha".
Há quatro anos ocorreu enchente da mesma natureza atribuída principalmente, quero crer, à falha do sistema de bombeamento.
E desta vez, terá sido o mesmo motivo?
A enchente daquele ano foi pretexto para cerrada crítica à administração então existente. Uma das acusações foi a falta de limpeza do atual canal Santa Bárbara, serviço que de acordo com a propaganda eleitoral recente, teria sido devidamente efetuado.
Sem aprofundar mais o mérito da questão ( o que, de qualquer forma, seria necessário em forum competente) observa-se no geral, muita política e pouca ação efetiva.
Enquanto os políticos se acusam, de dedo em riste, e procuram responsabilizar uns aos outros, a população é que sofre e tem de correr, como ratos que fogem de um navio, para salvar seus bens amealhados com sacrifício às vezes de uma vida.
No caso do acidente com a comitiva xavante, por exemplo, embora vários fatores possam ter se apresentado ( descuido ou imperícia do motorista, velocidade inadequado para o trecho, etc., etc.) um fato é indiscutível. A rodovia, naquele trecho, é de alto risco conforme atestam os acidentes ali já ocorridos. Ou seja, é mal projetada.O que ocorreu para tanto? Seria o caso de analisar o projeto, o contrato, o orçamento, enfim, abrir um inquérito para averiguar como se projeta o trecho de uma estrada que se torna uma armadilha mortal.
Em meio à desolação e os prejuízos, temos definitivamente de criar canais para aprofundar estes pontos. Do contrário não estamos livres de, a qualquer momento, vivermos estes momentos de agrura, com a mesma dor, a mesma impotência.
E só nos restar, quando se tornar tarde demais, morrer abraçados.
(foto: tomarumoguri.blogspot.com)
Texto: P.R.Baptista

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

"Chovendo no Molhado"

Amanhã a mídia de Pelotas poderia comentar a enxurrada de hoje, quarta-feira, como muitas com as quais estamos acostumados, inundando ruas e trazendo alguns costumeiros estragos e contratempos.
Poderia falar de bueiros entupidos pois a população insiste em jogar tudo na rua ou de limpeza que foi feita mas não foi suficiente pois a chuva alcançou índices incomuns.
Talvez até falasse de investimentos para obras que são necessárias.Mas que obras são estas?
Como agora há mais vias asfaltadas do que antes seria o caso de averiguar que influência isto está tendo.
Talvez alguém lembrasse, também, que algumas áreas, como a da foto, próximas ao antigo leito do Arroio Santa Bárbara, pagam há décadas o preço de se ter, aterrando o arroio, impedido o fluxo natural das águas.
Enfim, amanhã, mas só amanhã, quinta-feira, a chuva iria ser manchete e o assunto principal da mídia tradicional.
Mas a chuva extrapolou este padrão costumeiro e, agora, neste momento, a mídia eletrônica corre atrás de manter a população informada do fenômeno de grandes proporções que nos atinge.
A fonte mais efetiva parece ser o ClicRBS e das notícias, por enquanto, o fato mais grave refere-se ao desaparecimento de uma criança no distrito de Monte Bonito, pertencente à zona da colônia de Pelotas.
Ainda sem identificação, ela teria sumido em um arroio após o início do temporal.
Mas outros fatos, certamente de dimensões muito sérias, estão sucedendo e, pela manhã, a luz do dia permitirá ter uma visão mais clara de todos eles. Entre estes fatos, ainda não noticiado nem pela mídia eletrônica, talvez se inclua o surgimento de ventos fortes já presentes.
As notícias, no entanto, já são profundamente preocupantes com relação a situações surgidas em toda a região, sobretudo em Turuçu, com a cidade isolada e grande número de desabrigados.
A chuva assim , como há poucos dias no acidente com o xavante, nos acordou da rotina e nos enche de angústias.
Desta vez não é "chover no molhado", desta vez é ficar atento para poder ajudar de algum modo.
(obs. : o texto acima foi escrito na noite de quarta-feira, antes, portanto, de que se tivesse o quadro que só se conheceu mais integralmente na manhã do dia seguinte)

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Vazamento de água inunda ruas centrais

O trecho da Rua General Teles utilizado para a passagem dos ônibus desviados da Dom Pedro II, vai apresentando, dia a dia, sinais de deterioração.
Inadequado, pelo tipo de pavimentação, para o trânsito de veículos pesados, apresenta sinais de afundamento em alguns trechos.
Mais grave, ainda, é o estouro da rede hidráulica.
Entre as ruas Gonçalves Chaves e Félix da Cunha, este estouro ocorreu em dois pontos, provocando um vazamento de água de grandes proporções que inunda as ruas subjacentes e forma uma lagoa no cruzamento com a rua Santa Cruz onde, conforme já foi comentado em A Metade Sul, o escoamento pluvial foi interrompido pelo asfaltamento.
Contatado o Sanep teria feito alguma intervenção emergencial mas de pouca efácia pois, logo, em razão do trânsito de ònibus, a rede voltou a estourar.
A solução parece, portanto, exigir o imediato desvio dos ônibus desta via ou algum tipo de alternativa que possa realmente solucionar o problema e não o agravar..

domingo, 11 de janeiro de 2009

Martírio sem Fim

O ataque e a invasão de Israel na Faixa de Gaza é, sem dúvida, a questão mais angustiante que vivemos neste momento.
A reação do mundo, no entanto, dos políticos principalmente, parece muito lenta e muito aquém daquilo que seria necessário para deter o massacre.
As manifestações, de qualquer modo, já surgem com intensidade, algumas com grande apoio, e isto pode ajudar a se buscar uma saída.
Na França, por exemplo, de acordo com Marie Mars, autora da foto, por várias cidades ( Montpellier, Nîmes, Béziers, Perpignan, Lyon, Lille, Bordeaux, Toulouse, etc.), dezenas de milhares de manifestantes desfilaram em apoio aos palestinos da Faixa de Gaza. Em Paris, local da maior manifestação, estima-se que algo em torno de 30 mil (de acordo com a polícia )a 100 mil (de acordo com os organizadores), participaram do protesto
Uma das coisas que chama a atenção no conflito entre árabes e judeus ( ou mais especificamente, no caso, entre palestinos e israelenses) é a sua permanência que tem, como se sabe, raízes históricas que antecedem a época de Cristo.
Mas o perfil deste conflito, nos termos em que o conhecemos hoje, define-se com a criação do estado de Israel, de forma em certa medida não negociada, e as inúmeras guerras que, a partir daí, foram se sucedendo.
Israel, graças à sua determinação de manter o território que lhe foi concedido e à forte organização militar que foi montando, parece hoje inflexível a não ceder um centímetro deste espaço, até avançar um pouco se fôr possível, como tem feito, e isto ao preço que fôr necessário pagar, seja por parte de sua própria população seja, principalmente, por parte das populações envolvidas com os grupos que contestam sua hegemonia.
O momento que se vive agora, com as incursões bélicas ,duríssimas e cruéis, de Israel à Faixa de Gaza, exige uma grande reflexão e uma postura por parte de todos os cidadãos do mundo que se proponham a exercer um papel, por pequeno que seja, em defesa da dignidade humana.
É profundamente lamentável que os dirigentes mundiais, a começar pelos israelenses e palestinos, mas incluindo quase todos, principalmente os das grandes potências e dos países árabes, acompanhem de uma forma tão passiva o massacre que ocorre em Gaza.
Os dirigentes árabes, muitos pró-Estados Unidos, temem a ascenção do Hamas e querem, na realidade, tanto quanto os israelenses, a sua destruição.
O Hamas que tem a liderança política hoje dentro da faixa de Gaza, aposta no desgaste de Israel como ocorreu, recentemente, no Líbano. Já Israel aposta na destruição física do Hamas, valendo-se para isto, de tantas bombas quantas julgar necessário lançar sobre Gaza.
Os Estados Unidos, como um apostador numa corrida de cavalos, joga suas fichas na ação de Israel. Afinal, Israel é o ponta-de-lança de sua política na região.
Os civis, velhos, mulheres, crianças, jovens na flor da idade, que são dizimados e dilacerados como carne num açougue, estes ficam para depois, põe-se a mão sobre os olhos para não ver ou sobre a câmera para não mostrar e, pronto!, logo há de se achar um acordo em que os "vencedores" determinam as normas às quais os "vencidos" deverão se submeter.
Decididamente, como declarou Kafka, " a guerra é uma falta de imaginação"
( Texto: P.R.Baptista)

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Últimas Palavras à Nação


Em meio a um quadro político no qual as convicções ideológicas nem sempre parecem ser muito claras e pairam incertezas sobre os objetivos a alcançar e as melhores formas de ação, descubro a mensagem de Salvador Allende, Últimas Palavras à Nação, pronunciada pela rádio poucos momentos antes de ser morto,
Médico, fundador do Partido Socialista Chileno; Deputado entre 1937 e 1945; Ministro da Saúde no governo de Frente Popular em 1938; Senador entre 1945 e 1970 . Em setembro de 1970 foi eleito Presidente do Chile, primeiro Presidente Marxista eleito democraticamente na América Latina. Propôs nacionalizar as minas chilenas de cobre. Em 11 de setembro de 1973, três anos após eleito, foi deposto por um golpe militar respaldado pelos Estados Unidos e tendo a frente o general Pinochet. O Palácio presidencial foi bombardeado pelos militares e Allende morreu de armas na mão resistindo ao golpe e defendendo o regime constitucional. É neste momento de martírio que se dirige aos chilenos, pelo rádio, num pronunciamento de rara emoção e tragicidade., um pouco evocativo, guardadas as diferenças históricas e de situação, da Carta Testamento de Getúlio Vargas. É o seguinte o pronunciamento.

Últimas Palavras à Nação
Seguramente, esta será a última oportunidade em que poderei dirigir-me a vocês. A Força Aérea bombardeou as antenas da Rádio Magallanes. Minhas palavras não têm amargura, mas decepção. Que sejam elas um castigo moral para quem traiu seu juramento: soldados do Chile, comandantes-em-chefe titulares, o almirante Merino, que se autodesignou comandante da Armada, e o senhor Mendoza, general rastejante que ainda ontem manifestara sua fidelidade e lealdade ao Governo, e que também se autodenominou diretor geral dos carabineros.

Diante destes fatos só me cabe dizer aos trabalhadores:

Não vou renunciar!

Colocado numa encruzilhada histórica, pagarei com minha vida a lealdade ao povo. E lhes digo que tenho a certeza de que a semente que entregamos à consciência digna de milhares e milhares de chilenos, não poderá ser ceifada definitivamente. [Eles] têm a força, poderão nos avassalar, mas não se detém os processos sociais nem com o crime nem com a força. A história é nossa e a fazem os povos.

Trabalhadores de minha Pátria: quero agradecer-lhes a lealdade que sempre tiveram, a confiança que depositaram em um homem que foi apenas intérprete de grandes anseios de justiça, que empenhou sua palavra em que respeitaria a Constituição e a lei, e assim o fez.

Neste momento definitivo, o último em que eu poderei dirigir-me a vocês, quero que aproveitem a lição: o capital estrangeiro, o imperialismo, unidos à reação criaram o clima para que as Forças Armadas rompessem sua tradição, que lhes ensinara o general Schneider e reafirmara o comandante Araya, vítimas do mesmo setor social que hoje estará esperando com as mãos livres, reconquistar o poder para seguir defendendo seus lucros e seus privilégios.

Dirijo-me a vocês, sobretudo à mulher simples de nossa terra, à camponesa que nos acreditou, à mãe que soube de nossa preocupação com as crianças.

Dirijo-me aos profissionais da Pátria, aos profissionais patriotas que continuaram trabalhando contra a sedição auspiciada pelas associações profissionais, associações classistas que também defenderam os lucros de uma sociedade capitalista.

Dirijo-me à juventude, àqueles que cantaram e deram sua alegria e seu espírito de luta.

Dirijo-me ao homem do Chile, ao operário, ao camponês, ao intelectual, àqueles que serão perseguidos, porque em nosso país o fascismo está há tempos presente; nos atentados terroristas, explodindo as pontes, cortando as vias férreas, destruindo os oleodutos e os gasodutos, frente ao silêncio daqueles que tinham a obrigação de agir. Estavam comprometidos. A historia os julgará.

Seguramente a Rádio Magallanes será calada e o metal tranqüilo de minha voz não chegará mais a vocês. Não importa. Vocês continuarão a ouvi-la. Sempre estarei junto a vocês. Pelo menos minha lembrança será a de um homem digno que foi leal à Pátria. O povo deve defender-se, mas não se sacrificar. O povo não deve se deixar arrasar nem tranqüilizar, mas tampouco pode humilhar-se.

Trabalhadores de minha Pátria, tenho fé no Chile e seu destino.

Superarão outros homens este momento cinzento e amargo em que a traição pretende impor-se.

Saibam que, antes do que se pensa, de novo se abrirão as grandes alamedas por onde passará o homem livre, para construir uma sociedade melhor.

Viva o Chile!

Viva o povo!

Viva os trabalhadores!

Estas são minhas últimas palavras e tenho a certeza de que meu sacrifício não será em vão. Tenho a certeza de que, pelo menos, será uma lição moral que castigará a perfídia, a covardia e a traição.

(Postado por P.R.Baptista)

"Uma Gaúcha em Madri", uma escritora entre nós

Tenho várias lembranças da Joice, entre as mais antigas estão as do tempo em que
atuava no grupo de teatro do Cefet na montagem da peça Em Nome de Francisco, cujo tema é a vida e obra do poeta Lobo da Costa, com texto e montagem de Valter Sobreiro Júnior.
Eu fazia a fotografia da peça e viajei com o grupo por várias cidades , inclusive Montevideo . Junto com o espetáculo ia minha exposição que entitulei Evocação do Poeta: Cena e Bastidores.
Uma lembrança bem recente é de uma noite no Dom da Palavra onde cheguei para conversar com o José Vidal e encontrei a Joice muito concentrada no recital de poesias que estava programado.
Num dado momento foi até à frente , no local destinado aos músicos, e recitou algumas poesias, suas e de outros autores. Saiu-se bem pois além das poesias serem boas , ela é atriz e tem controle da voz e dos gestos.
Mas , entre estes dois momentos, a surpresa que a Joice me preparou foi ter se revelado escritora. Primeiro, impulsionada pela brisa que representou o José Vidal no campo editorial pelotense, teve publicado a novela Amor Doentio de Mãe.
E agora, bem recentemente, os relatos de viagem intitulados Uma Gaúcha em Madri
Em pouco tempo, a atriz de teatro, a jornalista, a “aventureira”, já conquista um espaço numa área na qual não são tantos os que se lançam com a desenvoltura que ela demonstra.
Reproduzo a seguir uma poesia da escritora.

Pés descalços

Tira já o pé do chão frio
Como minh'alma
O piso gelado vai te deixar doente
Como minh'alma
Os dedos entumecidos, dormentes
Como minh'alma

Sorriso travesso, olhar maroto
Só tem três anos e já sabe tanto
Esperta, teima em desobedecer
E ser feliz até no pranto

Quero ser livre como ela
Destemida, irresponsável,
sem abrigo
E não consigo
Os anos me estragaram
O melhor de mim levaram
Minha espontaneidade
E ousadia
O fogo que em mim ardia
Na minha melhor de idade

Volta aqui!
Ela, eu, enfim
Onde está a menininha
que habitava em mim?

Quero ver as duas lado a lado
Mãe e filha
De três anos, sem calçados
Correndo pelo piso frio
e pela vida
Sem medo de ser feliz
Mais atrevida

Azar do nariz entupido
"?que más dá?"
Que fique trancado
Como minh'alma
Deixe a guria dançar

( Texto: P.R.Baptista)

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Sancionada lei dos IFETs

Segunda-feira foi assinada pelo presidente Lula projeto de lei que cria 38 Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (Ifets).
O ato contou com a presença de representantes de entidades da área de educação e do ministro da Educação, Fernando Haddad.
Os institutos surgem da integração entre as escolas técnicas, agrotécnicas e centros federais de educação tecnológica (Cefets), que agora serão unidos sob uma política pedagógica comum. Os Ifets começam com 168 unidades e a meta é chegar a 2010 com 311 unidades, além de ampliar o número de vagas de 215 mil para 500 mil.
Com os Ifets ocorrerá o aumento do número de vagas em cursos técnicos de nível médio, em licenciaturas e em cursos superiores de tecnologia. Metade das vagas dos institutos será destinada ao ensino médio integrado ao profissional, o que possibilitará ao estudante se formar profissionalmente durante essa etapa de ensino.
Na educação superior serão incentivados cursos de engenharia e bacharelados tecnológicos, que contarão com 30% das vagas. Outros 20% serão destinados para licenciaturas em ciências da natureza, com objetivo de reverter o déficit de professores nas áreas de física, química, matemática e biologia.
No discurso, Lula agradeceu aos parlamentares o empenho na aprovação do projeto. Ele afirmou que eles costumam aprovar por unanimidade projetos nas áreas de saúde de educação quando são bem discutidos e há vontade política. O presidente citou, porém, o "percalço" da rejeição da Contribuição Provisória por Movimentação Financeira (CPMF) que, segundo ele, "um dia a história vai julgar".
Servidores e professores dos Ifets receberão capacitação da Universidade de Brasília (UnB). No total, 1.066 pessoas serão capacitadas por convênio firmado entre a UnB e o Ministério da Educação. A maior parte da carga horária do curso de capacitação para os professores será focada no desenvolvimento e registro de patentes.
Durante discurso, Fernando Haddad disse que no Brasil se chegou a "crueldade" de ser aprovada uma lei proibindo a construção de escolas técnicas e que o equívoco foi reparado posteriormente. Os Ifets fazem parte do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) e terão autonomia para criar e extinguir cursos e também registrar diplomas dos cursos oferecidos, nos limites de sua área de atuação territorial.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Eu e o homem das “Comédias da vida privada”

Roberta Scheibe (*)

Sábado passado entrevistei meu ídolo: Luis Fernando Verissimo. O autor esteve em Passo Fundo não para escrever nem palestrar (sic!), mas para tocar. Pra quem não sabe, Verissimo enche suas bochechinhas de ar e toca sax como ninguém. Ele fez um show com o seu grupo Jazz 6 no mesmo dia, à noite, no Teatro do Sesc. À tardinha, eu e meu colega da Beterraba Filmes fomos entrevistá-lo para um DVD de música que estamos produzindo. E eis que tudo aconteceu.
Quando chegamos ao hotel em que meu ídolo máximo se hospedaria (porque ele ainda não tinha chegado de Porto Alegre), eu já estava pra lá de Bagdá, vinda de um almoço (almocei 15h30min) com umas duas cervejas na cabeça. Pra mim, duas cervejas na cabeça são um verdadeiro desastre. Pois cheguei e tomei todos os cafés do hotel esperando o “Luis”. Ficamos conversando com outros jornalistas, que também esperavam o cara. Quando ele chegou meu coração gelou:
- Meu Deus, o Luis!
Ele entra. Tímido, como sempre. Camisa azul, calça marrom e sapato marrom sem meia. Cumprimentou um por um. Quando chegou até mim, alguém apresentou:
- Luis Fernando, esta é a jornalista Roberta Scheibe!
E eu que uma vez, ainda estudante, enviei um e-mail a ele - para minha monografia sobre a obra Comédias da vida privada” - chamando-o de “oi Luis”, e ele me respondeu como “prezada Roberta”, lembrei-me de imediato o quanto esse cara, por incrível que pareça, tem uma educação formal. E larguei:
- Tudo bom Verissimo?!
Ele balbuciou qualquer coisa que nem me preocupei em entender.
O autor do “Chivas Regal dos Whiskys” sentou na cadeira do entrevistado. No meio jornalístico Verissimo é conhecido por falar muito pouco, o que significa um problema para nós, jornalistas. No exato momento em que o autor sentou em sua cadeira Taís Rizzotto, que faria a entrevista primeiro, disse:
- Nós vamos bater um papo, vou te perguntar sobre a sua vida, e você pode falar sobre os fatos que quiser...
Eis que ele disse algo como:
- Eu não vou querer.
Isto, senhores, não representa uma grosseria, e sim uma timidez sem tamanho. A Taís só me deu uma olhadinha. Eu pensei: “Ai senhor, na minha vez ele vai estar louco da vida”! Imaginei o quanto seria difícil para o homem dar entrevista com quatro pessoas assistindo. A estas alturas, eu fiquei responsável de ajudar a Taís Rizzotto fazendo sinal, com as mãos, sobre o tempo que se passava na entrevista. Para desespero da jornalista e alívio do cronista, a cada cinco minutos eu levantava os cinco dedos no ar avisando que o tempo passava, e tanto a apresentadora quanto o meu ídolo me olhavam com o rabo dos olhos.
Quando chegou minha vez de entrevistá-lo, enquanto o cinegrafista arrumava a câmera, fui conversar com o escritor. Expliquei como seria o trabalho e que eu teria apenas três perguntas para lhe fazer, especificamente sobre um novo cantor de MPB. Ele disse que sim. Eu disse-lhe quais seriam as perguntas:
- Estas são as perguntas, mas na hora da gravação eu lhe pergunto e você responde uma por uma – expliquei. Ele fez um sinal de “sim” bem querido.
Na hora da gravação ele respondeu as três perguntas juntas em três frases. Eu refiz as perguntas e formulei algumas novas, na esperança de que a timidez dele o abandonasse um pouco e o deixasse formular falas tão boas quanto as frases escritas. Mas isso é um detalhe que não tem remédio, ele mesmo já escreveu que a pessoa que escreve parece outra da que fala.
Quando enfim terminei as perguntas, ele soltou um suspiro e disse:
- Pronto?
- Pronto, Verissimo!
Prontamente seu microfone de lapela foi retirado, ele cumprimentou singelamente a todos e saiu para descansar. Nós ficamos fofoqueando sobre a sua timidez e eu falei umas mil vezes (incluindo ida e volta da entrevista, dentro do carro) que o cara é meu ídolo. O bom, pelo menos, é que me fiz de difícil na frente dele: O meu “Tudo bom Verissimo?!” escondia, na verdade um “Eu te amo!!! Você é a luz de minha existência! O cronista que mais fez parte de minha vida”! Mas consegui disfarçar legal. E passei a entrevista inteira olhando da cara para os sapatos sem meia de meu ídolo.

(*) Roberta Scheibe é jornalista atuante em Passo Fundo e mantem o blog Santa Saliência. Conforme suas próprias palavras gosta de “ contar histórias preservando o conteúdo e extrapolando a forma”.

sábado, 20 de dezembro de 2008

Don Quixote e os ciclistas

P.R.Baptista
Em postagem anterior em Ciclistas Anônimos(www.ciclistasanonimos.blogspot.com) escrevo que "o ciclista surge neste ambiente inóspito como um tipo de figura quixotesca a duelar a cada esquina, a cada quadra com máquinas metálicas, velozes e mortíferas."
Tomando esta linha de pensamento quer me parecer que ela é mais procedente do que tinha pensado.
Don Quixote, acompanhado do fiel escudeiro Sancho Panza, tem um ideal e um objetivo mas se defronta, na busca de concretizá-los, com obstáculos difíceis de superar.
Quando enfrenta, pensando se tratarem de cavaleiros inimigos, os moinhos de vento, defronta-se, na realidade, com forças que superam sua pequena capacidade de luta.
Os ciclistas que entram dentro do trânsito e disputam seu espaço com veículos pesados, são como Don Quixote enfrentando os moinhos.
O resultado é bem conhecido. Os ferimentos, as fraturas ou até mesmo, o que não é incomum, a morte.
Trata-se de um confronto desigual e mortal.
Nem sempre o capacete, os equipamentos de segurança, o respeito a regras de trânsito, são garantia integral de sobrevivência. Muitas vezes estas proteções se pulverizam diante da brutalidade que é ser atropelado por veículos que podem ser centenas de vezes mais pesados.
Este é o momento em que, efetivamente, estamos na contramão pois a vida é uma via de mão única. Para superar esta condição de inferioridade só dispomos da nossa organização e da nossa união. Quando entramos na discussão das condições oferecidas para o ciclismo urbano, percebemos que temos dificuldade em manter o foco naquilo que é mais essencial e nas questões primordialmente mais estratégicas.
Como Don Quixote acreditamos que ações algumas das quais em parte ingênuas e isoladas possam modificar um quadro profundamente instalado em nossa sociedade e dentro do qual o automóvel é o soberano intocável. Temos que ir à busca de aliados, um dos quais temos de ter a clareza de nos dar conta, é o transporte coletivo. Poucas vezes vejo colocada esta associação mas ela é central num contexto em que o grande desafio é impedir que os carros particulares ocupem as ruas de forma cada vez mais avassaladora.
Para concluir estas observações, reitero que é o momento de caminharmos das formas quixotescas de tentar abalar o poder do qual os ciclistas estão excluídos, para outras mais estruturadas e, em especial, baseadas em estratégias mais coerentes com os embates que se colocam pela frente.

Flávio Tavares: Um Artista Paraibano e Universal

Chega-me da Paraíba, um pouco distante geograficamente mas tão próxima intelectualmente, a notícia da obra ( uma das quais ilustra esta nota) de um artista digno de ser conhecido nesta “parte do hemisfério”.
Trata-se de Flávio Tavares que, referindo-se ao seu trabalho, afirma: "Já fui chamado de surrealista e classificado como um figurativista que segue a tradição dos anatomistas pré ou pós renascentistas, até pintor primitivo, numa primeira fase. Mas prefiro achar que busco e executo os meus próprios ideais estéticos, embora admita que tenho muito dos anatomistas, dos surrealistas, dos primitivos e dos impressionistas"
Um crítico, Altemir Garcia, referindo-se à sua exposição Canteiros da Memória, escreve: "Em sua obra vemos aprendida a magia figurativa dos trópicos em seu mais recomendável nível. Há encoberta nos adereços de "cena" - o expressivo é sempre dramático - uma sinalização dimensionando ao civilizatório; uma geometria sutilmente indicadora, uma composição misteriosa, numerária de referências nos traços e cores que se reportam, consubstanciando-se enquanto tal, na mais rica sociologia pictórica - aliada ao onírico das coisas e à condição do humano retratado - já produzida por um artista plástico paraibano depois de Pedro Américo. Posição essa dividida com João Câmara, mais cerebral e contestatório".
Na trajetória artística de Flávio Tavares, um número significativo de exposições, várias no exterior, principalmentre Alemanha.
Em sua obra destacam-se também painéis e murais assim relacionados:
PAINÉIS
::: Palácio do Governo do Estado da Paraíba, medindo 7,00m x 2,00m. Tema: Gênesis
::: Fórum Miguel Sátyro, em Patos-PB
::: Centro de Cultura Internacional Oswaldo Aranha, em Asklon - Israel, medindo 13,00m x 3,00m.
::: "A Missão", coleção Samuel Sthal em Berlim - Alemanha, medindo 4,00m x 2,00m.
::: Capela do TRT da 13º Região, medindo 6,00m x 2,00m. Tema: São Francisco.
::: Painel "A Pedra do Reino", na Secretaria de Cultura do Estado da Paraíba, medindo 3,00m x 2,00m.

MURAIS
::: Cidade dos Olhos da Paraíba, medindo 12,00m x 4,00m, medindo 8,00m x 4,00m. Tema: "O nascimento da cura".
::: Hemocentro da Paraíba, João Pessoa-PB, medindo 8,00m x 4,00m.
::: Banco do Brasil, agência central, João Pessoa-PB, medindo 4,00m x 2,00m.
::: Assembléia Legislativa do Estado da Paraíba, João Pessoa-PB, medindo 8,00m x 3,00m. Tema: " A Fundação da Cidade
(postado por P.R.Baptista )

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Mudando as regras do jogo

A história política brasileira é marcada pelos casuísmos e pela falta de princípios políticos definidos. Já tivemos na última metade de século, além do presidencialismo, duas décadas de ditadura militar, um arremedo de parlamentarismo e até um plebiscisto em que uma das opções era a monarquia! Igualmente, a todo momento surge uma proposta nova, algumas das quais vingaram a custo de muita "negociação", de alterar o mandato dos dirigentes e a forma de eleição. O tempo de mandato oscila entre quatro anos, cinco anos, seis anos, toda uma gama de alternativas. Com direito a reeleição ou não. Não faz muito discutia-se o terceito mandado de Lula. No meio de tantas alternâncias, provocadas quase sempre por interesse localizados, é bom estar atento ao que surge pela frente. A proposta mais recente é do deputado Carlos Zarattini (PT-SP) que apresentou à Câmara proposta de emenda à Constituição que pretende contribuir com a reforma política. Segundo ele, trata-se de uma mudança no calendário eleitoral pela qual se estabeleceria a coincidência geral de todas as eleições, em todos os níveis, a cada cinco anos. Presidentes, governadores e prefeitos teriam seus mandatos ampliado em um ano voltando, entretanto, a ser proibida a reeleição.
"A questão fundamental é garantir um processo único eleitoral no País e o fortalecimento dos partidos nacionais, sem haver cláusula de barreira ou outros artifícios. Com a proposta teremos também o barateamento das eleições, uma conquista extremamente importante", defendeu Zarattini.
Ainda segundo o deputado, a ampliação do intervalo entre os pleitos permitiria não apenas uma grande economia nos gastos públicos e privados com as eleições, que atualmente se realizam de dois em dois anos, mas, principalmente, possibilitaria que os eleitos pudessem se dedicar mais à administração.
"Hoje, nem bem tomam posse, prefeitos, governadores e presidentes são compelidos a se preparar para a próxima eleição, num desvio da energia que deveria estar dedicada às tarefas de administração para as quais foram eleitos. A fragmentação do processo eleitoral, separando as eleições municipais das eleições gerais dificulta a criação de correntes de opinião em torno dos partidos políticos que com elas mais se identificam, facilitando os personalismos e o uso político das máquinas administrativas", afirmou.
E conclui afirmando que as mais diversas propostas para a reforma política, como o voto distrital ou o distrital misto, a votação em lista fechada, o financiamento público, a cláusula de desempenho, ou as normas de fidelidade partidária não são contraditórias com o objetivo da proposta. (enviado por P.R.BAPTISTA)