segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Eu e o homem das “Comédias da vida privada”

Roberta Scheibe (*)

Sábado passado entrevistei meu ídolo: Luis Fernando Verissimo. O autor esteve em Passo Fundo não para escrever nem palestrar (sic!), mas para tocar. Pra quem não sabe, Verissimo enche suas bochechinhas de ar e toca sax como ninguém. Ele fez um show com o seu grupo Jazz 6 no mesmo dia, à noite, no Teatro do Sesc. À tardinha, eu e meu colega da Beterraba Filmes fomos entrevistá-lo para um DVD de música que estamos produzindo. E eis que tudo aconteceu.
Quando chegamos ao hotel em que meu ídolo máximo se hospedaria (porque ele ainda não tinha chegado de Porto Alegre), eu já estava pra lá de Bagdá, vinda de um almoço (almocei 15h30min) com umas duas cervejas na cabeça. Pra mim, duas cervejas na cabeça são um verdadeiro desastre. Pois cheguei e tomei todos os cafés do hotel esperando o “Luis”. Ficamos conversando com outros jornalistas, que também esperavam o cara. Quando ele chegou meu coração gelou:
- Meu Deus, o Luis!
Ele entra. Tímido, como sempre. Camisa azul, calça marrom e sapato marrom sem meia. Cumprimentou um por um. Quando chegou até mim, alguém apresentou:
- Luis Fernando, esta é a jornalista Roberta Scheibe!
E eu que uma vez, ainda estudante, enviei um e-mail a ele - para minha monografia sobre a obra Comédias da vida privada” - chamando-o de “oi Luis”, e ele me respondeu como “prezada Roberta”, lembrei-me de imediato o quanto esse cara, por incrível que pareça, tem uma educação formal. E larguei:
- Tudo bom Verissimo?!
Ele balbuciou qualquer coisa que nem me preocupei em entender.
O autor do “Chivas Regal dos Whiskys” sentou na cadeira do entrevistado. No meio jornalístico Verissimo é conhecido por falar muito pouco, o que significa um problema para nós, jornalistas. No exato momento em que o autor sentou em sua cadeira Taís Rizzotto, que faria a entrevista primeiro, disse:
- Nós vamos bater um papo, vou te perguntar sobre a sua vida, e você pode falar sobre os fatos que quiser...
Eis que ele disse algo como:
- Eu não vou querer.
Isto, senhores, não representa uma grosseria, e sim uma timidez sem tamanho. A Taís só me deu uma olhadinha. Eu pensei: “Ai senhor, na minha vez ele vai estar louco da vida”! Imaginei o quanto seria difícil para o homem dar entrevista com quatro pessoas assistindo. A estas alturas, eu fiquei responsável de ajudar a Taís Rizzotto fazendo sinal, com as mãos, sobre o tempo que se passava na entrevista. Para desespero da jornalista e alívio do cronista, a cada cinco minutos eu levantava os cinco dedos no ar avisando que o tempo passava, e tanto a apresentadora quanto o meu ídolo me olhavam com o rabo dos olhos.
Quando chegou minha vez de entrevistá-lo, enquanto o cinegrafista arrumava a câmera, fui conversar com o escritor. Expliquei como seria o trabalho e que eu teria apenas três perguntas para lhe fazer, especificamente sobre um novo cantor de MPB. Ele disse que sim. Eu disse-lhe quais seriam as perguntas:
- Estas são as perguntas, mas na hora da gravação eu lhe pergunto e você responde uma por uma – expliquei. Ele fez um sinal de “sim” bem querido.
Na hora da gravação ele respondeu as três perguntas juntas em três frases. Eu refiz as perguntas e formulei algumas novas, na esperança de que a timidez dele o abandonasse um pouco e o deixasse formular falas tão boas quanto as frases escritas. Mas isso é um detalhe que não tem remédio, ele mesmo já escreveu que a pessoa que escreve parece outra da que fala.
Quando enfim terminei as perguntas, ele soltou um suspiro e disse:
- Pronto?
- Pronto, Verissimo!
Prontamente seu microfone de lapela foi retirado, ele cumprimentou singelamente a todos e saiu para descansar. Nós ficamos fofoqueando sobre a sua timidez e eu falei umas mil vezes (incluindo ida e volta da entrevista, dentro do carro) que o cara é meu ídolo. O bom, pelo menos, é que me fiz de difícil na frente dele: O meu “Tudo bom Verissimo?!” escondia, na verdade um “Eu te amo!!! Você é a luz de minha existência! O cronista que mais fez parte de minha vida”! Mas consegui disfarçar legal. E passei a entrevista inteira olhando da cara para os sapatos sem meia de meu ídolo.

(*) Roberta Scheibe é jornalista atuante em Passo Fundo e mantem o blog Santa Saliência. Conforme suas próprias palavras gosta de “ contar histórias preservando o conteúdo e extrapolando a forma”.

sábado, 20 de dezembro de 2008

Don Quixote e os ciclistas

P.R.Baptista
Em postagem anterior em Ciclistas Anônimos(www.ciclistasanonimos.blogspot.com) escrevo que "o ciclista surge neste ambiente inóspito como um tipo de figura quixotesca a duelar a cada esquina, a cada quadra com máquinas metálicas, velozes e mortíferas."
Tomando esta linha de pensamento quer me parecer que ela é mais procedente do que tinha pensado.
Don Quixote, acompanhado do fiel escudeiro Sancho Panza, tem um ideal e um objetivo mas se defronta, na busca de concretizá-los, com obstáculos difíceis de superar.
Quando enfrenta, pensando se tratarem de cavaleiros inimigos, os moinhos de vento, defronta-se, na realidade, com forças que superam sua pequena capacidade de luta.
Os ciclistas que entram dentro do trânsito e disputam seu espaço com veículos pesados, são como Don Quixote enfrentando os moinhos.
O resultado é bem conhecido. Os ferimentos, as fraturas ou até mesmo, o que não é incomum, a morte.
Trata-se de um confronto desigual e mortal.
Nem sempre o capacete, os equipamentos de segurança, o respeito a regras de trânsito, são garantia integral de sobrevivência. Muitas vezes estas proteções se pulverizam diante da brutalidade que é ser atropelado por veículos que podem ser centenas de vezes mais pesados.
Este é o momento em que, efetivamente, estamos na contramão pois a vida é uma via de mão única. Para superar esta condição de inferioridade só dispomos da nossa organização e da nossa união. Quando entramos na discussão das condições oferecidas para o ciclismo urbano, percebemos que temos dificuldade em manter o foco naquilo que é mais essencial e nas questões primordialmente mais estratégicas.
Como Don Quixote acreditamos que ações algumas das quais em parte ingênuas e isoladas possam modificar um quadro profundamente instalado em nossa sociedade e dentro do qual o automóvel é o soberano intocável. Temos que ir à busca de aliados, um dos quais temos de ter a clareza de nos dar conta, é o transporte coletivo. Poucas vezes vejo colocada esta associação mas ela é central num contexto em que o grande desafio é impedir que os carros particulares ocupem as ruas de forma cada vez mais avassaladora.
Para concluir estas observações, reitero que é o momento de caminharmos das formas quixotescas de tentar abalar o poder do qual os ciclistas estão excluídos, para outras mais estruturadas e, em especial, baseadas em estratégias mais coerentes com os embates que se colocam pela frente.

Flávio Tavares: Um Artista Paraibano e Universal

Chega-me da Paraíba, um pouco distante geograficamente mas tão próxima intelectualmente, a notícia da obra ( uma das quais ilustra esta nota) de um artista digno de ser conhecido nesta “parte do hemisfério”.
Trata-se de Flávio Tavares que, referindo-se ao seu trabalho, afirma: "Já fui chamado de surrealista e classificado como um figurativista que segue a tradição dos anatomistas pré ou pós renascentistas, até pintor primitivo, numa primeira fase. Mas prefiro achar que busco e executo os meus próprios ideais estéticos, embora admita que tenho muito dos anatomistas, dos surrealistas, dos primitivos e dos impressionistas"
Um crítico, Altemir Garcia, referindo-se à sua exposição Canteiros da Memória, escreve: "Em sua obra vemos aprendida a magia figurativa dos trópicos em seu mais recomendável nível. Há encoberta nos adereços de "cena" - o expressivo é sempre dramático - uma sinalização dimensionando ao civilizatório; uma geometria sutilmente indicadora, uma composição misteriosa, numerária de referências nos traços e cores que se reportam, consubstanciando-se enquanto tal, na mais rica sociologia pictórica - aliada ao onírico das coisas e à condição do humano retratado - já produzida por um artista plástico paraibano depois de Pedro Américo. Posição essa dividida com João Câmara, mais cerebral e contestatório".
Na trajetória artística de Flávio Tavares, um número significativo de exposições, várias no exterior, principalmentre Alemanha.
Em sua obra destacam-se também painéis e murais assim relacionados:
PAINÉIS
::: Palácio do Governo do Estado da Paraíba, medindo 7,00m x 2,00m. Tema: Gênesis
::: Fórum Miguel Sátyro, em Patos-PB
::: Centro de Cultura Internacional Oswaldo Aranha, em Asklon - Israel, medindo 13,00m x 3,00m.
::: "A Missão", coleção Samuel Sthal em Berlim - Alemanha, medindo 4,00m x 2,00m.
::: Capela do TRT da 13º Região, medindo 6,00m x 2,00m. Tema: São Francisco.
::: Painel "A Pedra do Reino", na Secretaria de Cultura do Estado da Paraíba, medindo 3,00m x 2,00m.

MURAIS
::: Cidade dos Olhos da Paraíba, medindo 12,00m x 4,00m, medindo 8,00m x 4,00m. Tema: "O nascimento da cura".
::: Hemocentro da Paraíba, João Pessoa-PB, medindo 8,00m x 4,00m.
::: Banco do Brasil, agência central, João Pessoa-PB, medindo 4,00m x 2,00m.
::: Assembléia Legislativa do Estado da Paraíba, João Pessoa-PB, medindo 8,00m x 3,00m. Tema: " A Fundação da Cidade
(postado por P.R.Baptista )

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Mudando as regras do jogo

A história política brasileira é marcada pelos casuísmos e pela falta de princípios políticos definidos. Já tivemos na última metade de século, além do presidencialismo, duas décadas de ditadura militar, um arremedo de parlamentarismo e até um plebiscisto em que uma das opções era a monarquia! Igualmente, a todo momento surge uma proposta nova, algumas das quais vingaram a custo de muita "negociação", de alterar o mandato dos dirigentes e a forma de eleição. O tempo de mandato oscila entre quatro anos, cinco anos, seis anos, toda uma gama de alternativas. Com direito a reeleição ou não. Não faz muito discutia-se o terceito mandado de Lula. No meio de tantas alternâncias, provocadas quase sempre por interesse localizados, é bom estar atento ao que surge pela frente. A proposta mais recente é do deputado Carlos Zarattini (PT-SP) que apresentou à Câmara proposta de emenda à Constituição que pretende contribuir com a reforma política. Segundo ele, trata-se de uma mudança no calendário eleitoral pela qual se estabeleceria a coincidência geral de todas as eleições, em todos os níveis, a cada cinco anos. Presidentes, governadores e prefeitos teriam seus mandatos ampliado em um ano voltando, entretanto, a ser proibida a reeleição.
"A questão fundamental é garantir um processo único eleitoral no País e o fortalecimento dos partidos nacionais, sem haver cláusula de barreira ou outros artifícios. Com a proposta teremos também o barateamento das eleições, uma conquista extremamente importante", defendeu Zarattini.
Ainda segundo o deputado, a ampliação do intervalo entre os pleitos permitiria não apenas uma grande economia nos gastos públicos e privados com as eleições, que atualmente se realizam de dois em dois anos, mas, principalmente, possibilitaria que os eleitos pudessem se dedicar mais à administração.
"Hoje, nem bem tomam posse, prefeitos, governadores e presidentes são compelidos a se preparar para a próxima eleição, num desvio da energia que deveria estar dedicada às tarefas de administração para as quais foram eleitos. A fragmentação do processo eleitoral, separando as eleições municipais das eleições gerais dificulta a criação de correntes de opinião em torno dos partidos políticos que com elas mais se identificam, facilitando os personalismos e o uso político das máquinas administrativas", afirmou.
E conclui afirmando que as mais diversas propostas para a reforma política, como o voto distrital ou o distrital misto, a votação em lista fechada, o financiamento público, a cláusula de desempenho, ou as normas de fidelidade partidária não são contraditórias com o objetivo da proposta. (enviado por P.R.BAPTISTA)

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

"A empresa agradece ao seu contato": a internet é confiável?

Num momento em que o emprego da internet avança de forma vertiginosa várias questões vão surgindo, algumas vinculadas à confiabilidade do sistema em termos de localização e armazenamento de informações. Questões que podem estar, em alguns casos, vinculadas à confiabilidade das empresas que gerenciam o sistema. Uma situação pertinente parece ser um recente comunicado feito em 6/11/2008 pelo TERRA, anunciando no curto prazo de um mês a descontinuidade do serviço Páginas Pessoais mantido há vários anos, dando lugar ao Divulga Fácil, obviamente mais caro. A assinatura do novo serviço, com as vantagens apregoadas, não impede que decorram prejuízos para o usuário. Como cliente de longa data dos serviços de hospedagem encaminhei a correspondência abaixo aos setores que foi possível identificar com algum grau de existência material, percorrendo um labirinto kafkiano de "atendentes" ( nova categoria profissional de funcionários que, junto de um computador, procuram da melhor possível repassar entre eles as dúvidas que eles próprios, às vezes, não conseguem elucidar para clientes muitos dos quais, compreensívelmente, ainda mais confusos e, por fim, propensos a desistir do que pretendem. Desistência quase sempre gratificada com a imutável mensagem:" a empresa agradece ao seu contato e lhe deseja uma Bom Dia! "
Correspondência enviada ao Terra:
Venho com relação ao comunicado emitido pelo Terra em 6/11/2008 conduzindo à assinatura do DIVULGA FÁCIL esclarecer que a descontinuidade do serviço pago de Páginas Pessoais traz prejuízos aos clientes que durante muitos anos foram usuários. Entre estes prejuízos destaco a perda dos dados nos serviços de busca e até de links espalhados em um número indeterminado de sites e estabelecidos ao longo dos anos. Apelo, portanto, para a sensibilidade de o TERRA, como uma forma de zelar pela confiabilidade de seus serviços, manter os vínculos existentes até que se encontre uma solução satisfatória.
Atenciosamente
Paulo Renato Baptista
Cliente TERRA/ Páginas Pessoais

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Sinasefe-Pelotas: Festa de Natal

A Festa de Natal da Seção Sindical de Pelotas do Sinasefe, está prevista para o próximo dia 13, sábado, às 20 horas, no CTG Thomaz Luiz Osório. O evento já se tornou uma promoção tradicional da entidade que congrega servidores docentes e técnicos-administrativos do CEFET. Na programação sorteio de brindes e chegada do Papai Noel. Som da Banda Farroupilha.
Os convites podem ser obtidos junto à sede localizada na Rua XV de Novembro, 224 até o dia 10. Maiores informações ( acompanhantes, convidados) na secretaria pelo telefone3028-6077. ( Informe O Megafone)

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

"Sons do Silêncio": o amadurecimento de um artista

Acompanho o envolvimento de Gilberto Isquierdo com arte há bastante tempo.
Chegamos a ser vizinhos quando manteve, durante um período, um atelier de tapeçaria bem próximo de minha casa na General Teles.
Mais recentemente veio a público expondo trabalhos de escultura e, por fim, com o show Sons do Silêncio, um espetáculo musical feito com muita competência, com muito apuro e de uma apurada sensibilidade artística.
O show é a forma de que se reveste, em cena, o CD gravado em 2007 de forma independente e que procura, nas palavras muito apropriadas da apresentação:
resgatar os 20 anos de sua produção musical "silenciosa", norteado por uma sonoridade introspectiva e intuitiva, alicerçado na musicalidade brasileira e na sonoridade do universo do "Grande Pampa".
Composto somente por músicas próprias e inéditas, o artista, através de um fazer reflexivo e intimista, constrói uma linha poética embasada pela guarda de impressões, como ideologias políticas e existenciais, lugares, sentimentos, pessoas e cenas do cotidiano, procurando despertar as mais variadas sensações, instigando os mecanismos silenciosos do espectador ao questionamento e a sua própria imaginação.
O espetáculo Sons do Silêncio é um convite ao olhar interior, a observar o mais simples num tema gerador de profundas percepções. Onde o extremo efêmero do orvalho ganha intensa vida de sentidos, e a semente suicida morre para germinar. O laborar cotidiano tece a busca pela plenitude. O show une a apreciação com a vivência, possibilita sentir a estética da forma mais ampla, emaranhando som, palavra, luz e cor. Não há como estar fora do espetáculo! O contraste se harmoniza entre os opostos, pois o som e a poesia levam ao mais profundo e frio silêncio individual, enquanto a cor e a luz presentes no palco incendeiam o calor humano vindo das relações. Cada músico, com sua particularidade, é essencial na concepção sonora, onde os contrastes também estão presentes. Há um contraponto da voz grave de Gilberto com instrumentos agudos como o violino. O som traz elementos nativistas, mas vai muito além do tradicionalismo... Agrega violino, piano, cordas de aço e toma a história apenas como meio para reler os significados do hoje. O espetáculo abrange um paradoxo de "movimento estático", "contraste harmônico", assim como o "som do silêncio".
(P.R.BAPTISTA)

João Cândido: herói ou vilâo?

Em 15 de novembro de 1910, Hermes da Fonseca é eleito presidente da República. São 403.897 votos contra os 223.784 atribuídos a Rui Barbosa: uma proporção de quase dois para um! Mas seu governo haverá de ser um dos mais turbulentos da política brasileira.
Na manhã seguinte à posse presidencial, a tripulação do Minas Gerais é convocada para assistir à punição do Marinheiro Marcelino Menezes, que atacara e ferira um cabo. As 250 chibatadas, aplicadas ao rufar dos tambor, são presididas pelo comandante João Batista das Neves. Seis dias depois, sob a chefia do marinheiro João Cândido, a tripulação do Minas Gerais se rebela. Neves é morto. As naus São Paulo, Bahia e Deodoro aderem à revolta; outros oficiais são assassinados. Ameaçando bombardear o Rio de Janeiro, os amotinados --- mais de dois mil! --- sob a liderança do gaúcho João Cândido, exigem o fim das “penas disciplinares” que, além dois açoites, incluíam a palmatória ou “bolo” e a prisão a ferro, na solitária, a pão e água. Exigem ainda o aumento dos soldos e a melhoria da alimentação a bordo. É a Revolta da Chibata, movimento que eclode na Martinha em protesto contra os castigos corporais a que eram submetidos os marinheiros brasileiros.
Pressionados pela marujada, reunidos no Congresso Nacional e no Palácio do Catete, Hermes e os influentes senadores Pinheiro Machado e Rui Barbosa dizem amém às exigências dos amotinados. Mais: prometem anistia-los. Em resposta, no dia 25 os rebeldes arriam as bandeiras vermelhas que sinalizavam o motim., Os navios são devolvidos. O episódio parecia encerrado. Três dias depois, porém, um decreto presidencial autoriza o ministro da Marinha a expulsar da corporação os líderes da sedição. Em 10 de dezembro, os fuzileiros navais alojados na ilha das Cobras provocam nova rebelião. Para evitar a repressão, os marinheiros das naus Minas Gerais, Bahia e São Paulo --- que nada têm a ver com os protestos dos fuzileiros --- bombardeiam as instalações onde se encontram os companheiros de corporação. Alarmado com a onda de conspiratas, o presidente deflagra uma repressão feroz. Marinheiro já anistiados, que haviam participado da Revolta da Chibata, são aprisionados. Muitos deles são fuzilados.
João Cândido e 17 marinheiros que haviam participado da primeira revolta são encarcerados na ilha das Cobras. No terceiro dia, 16 deles estão mortos. Após 18 meses de prisão, o “Almirante Negro” é internado num hospital para loucos. Outros 250 marinheiros são presos: junto com ladrões, desordeiros, cafetões e meretrizes são embarcados no cargueiro Satélite e mandados para o exílio no Acre. A “nau da morte” zarpa do Rio na véspera do Natal. Na viagem, nove marinheiros são fuzilados a bordo e seus corpos jogados no mar. Dos sobreviventes, uns são incorporados à Comissão Rondon, outros são abandonados às margens do Madeira, para trabalhar com os seringueiros.
Libertado em 1914, expulso da Armada, João Cândido viveu uma vida amarga. Redescoberto na década de 1950 trabalhando num mercado de peixes, na praça XV, foi transformado em símbolo e apoiou a Revolta dos Marinheiros, ocorrida em 1964, às vésperas da queda do Governo João Goulart. Em 1969, aos 89 anos, sem anistia, morreu de câncer, em completa miséria, numa favela carioca.
Em 2007, a Marinha liberou o prontuário do marinheiro João Cândido Felisberto. Para a corporação, o levante liderado pelo “Almirante Negro” foi uma “rebelião ilegal, sem qualquer amparo moral”. Para o historiador Marco Morel, “foi um golpe de misericórdia nos resquícios de escravidão que permaneciam arraigados na sociedade brasileira”. No Dia da Consciência Negra, data que assinala o aniversário da morte de Zumbi dos Palmares, em cerimônia que contou com a presença do presidente Lula e show de Martinho da Vila, a estátua de João Cândido foi transferida do Museu da República, no Catete, para a Praça XV, no centro do Rio de Janeiro.
(SÉRGIO CRUZ LIMA , professor universitário aposentado)

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Eleições nas Escolas Municipais

Depois das eleições municipais, que tomou a vida de todos nós, as eleições para direção das escolas municipais, tem sido um dos temas debatidos no meio municipal e foi responsável até pela queda da secretária municipal de educação, Ana Berenice, que pela maneira que se posicionou, contra, assustou muita gente. Afinal em tempos de democracia, privar a escolha de diretores de escola, não parece muito democrático. Mas, com um comportamento reparador deste lapso, o prefeito Fetter Jr. trocou sua secretária e ao final das contas, as eleições para direções das escolas municipais irão ocorrer. As comissões eleitorais estão constituidas, as incrições de chapa serão durante esta semana e as eleições ocorrem no dia 17 de dezembro de 2008. Só é lastimável que pelo fato de ocorrerem ao final do ano letivo teremos um pleito esvaziado. Isto teria sido proposital ou mero acaso? O leitor que conclua. ( PROFESSOR GRAVATO )

domingo, 30 de novembro de 2008

Página em Branco

Há vários dias o site do jornal Diário Popular alerta que está em manutenção. Presume-se que para melhorar não só o design mas, principalmente, o acesso a informações. Este acesso tem se apresentado muito limitado não permitindo, por exemplo, visualizar fotografias. Num momento em que os meios virtuais avançam a passos largos, fica a indagação de quais recursos vão se valer os veículos tradicionais, como o jornal impresso, para se manterem competitivos. Não há de ser, de qualquer modo, ignorando as virtudes da rede virtual e muito menos deixando o site fora do ar por tanto tempo.( P.R.BAPTISTA)

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Chimarrão é adição?


Perdoada a pobreza da rima, e deixando de lado que os já conhecidos benefícios de socialização compensam os desconhecidos riscos, pode-se afirmar logo em seguida que tal pergunta, mal formulada, está no centro do problema da adição. A pergunta implica que seja o chimarrão, e não cada um de nós, ou algo em nós, o autor da adição. Adicionar algo que nos falta. Que se reconheça, que mesmo que a duas pessoas faltem um mesmo algo, não faltará nunca da mesma maneira, nem com a mesma intensidade, pois toda psi é uma casuística sem fim. Fica fácil dizer que mesmo que troque de mão em mão, o chimarrão nunca será o mesmo para cada um na roda. Cada pessoa possui sua maneira de viver a vida, e há quem diga, as vezes a própria vida parece querer ter vida própria. Uma das tentativas de sistematizar uma adição é considera-la como sendo o terceiro grau de uma escalada iniciada com o simples uso de uma droga, passando a um abuso, até alcançar um estágio de dependência, tanto de uso e hábito, quanto da química contida na droga. Por outro lado há também um entendimento de que no centro da adição esteja a perda do controle por parte do habituado. Esta forma de ver as coisas é interessante, mas a contrapartida é o argumento de que as drogas não são todas iguais, e mesmo que a vontade fosse igual a todas as pessoas, ainda assim, a qualidade da substância adicionada teria de ser levada em conta. A química de um mate não pode ser igualada a cafeína contida em um café expresso. Existem drogas capazes de exercer poder químico real sobre a mente de um adito. Não fosse assim, o jogo de cartas, o ver televisão ou o apostar em cavalos, poderiam também serem considerados uma adição, por representarem uma perda do controle por parte da pessoa que passa a depender do hábito, por constituirem uma fonte de abastecimento psicológico, seja de entrenimento e prazer, como também de segurança e presença, onde se resalta o desconforto sentido no abster-se da ação. Sob este ponto de vista, não só a química de um cigarro importa, mas também o consolo de 'fumar um', sendo comum a expressão 'cigarrinho amigo', ou 'o companheiro de minha solidão'. O importante talvez seja manter-se aberto a tais idéias e as ter sempre bem lembradas, para que saciadas nos permitam esqueçe-las e nos voltar para escutar a pessoa que nos fala. Deixar que cada um conte a sua história, ouvir, é o que primeiro deve ser oferecido junto com o mate, por ser exatamente o algo que falta, em toda e qualquer adição. Toda adição substituiu, ou tenta substituir em vão, uma outra pessoa. Espero portanto, com minhas palavras, chamar para a conversa pelo menos uma outra pessoa ( psicólogo CLÁUDIO LEITÃO)). (foto Guria's Da Vam, http://grasi-ruivasm.brasilflog.com.br/)